sábado, 25 de janeiro de 2014

A autora deste blog ENLOUQUECEU !


O Ultimo Imposto
- Aqui tens a pelle ó tyrrano e acabemos com isto .
O osso cá fica para a espadeirada municipal.
Rafael Bordalo Pinheiro
A funcionária pública autora deste blog , vem agradecer  ao governo de Portugal, o empenho em  tirar "a crise do país "- que , como todos sabem se encontra em franca retoma - e mostrar aos altos pensadores da administração,   como se sente reconhecida pelos seus 23 anos de trabalho, de serviço público, expressos no valor do recibo de vencimento do mês de Janeiro.

Sublinhando a natureza estimulante do corte salarial , a funcionária pública autora deste blog, declara-se mais do que nunca empenhada em contribuir para o aumento da produtividade  nacional  e aplaude as soluções praticas - sempre mais do mesmo- que se repetem na administração, sempre postas ao serviço da alta finança.

A funcionária pública e autora deste blog tem esperança que o governo não fique por aqui e anseia que chegue Março para contribuir de novo para o esforço nacional ( ADSE) e servir o estado, descontando mais algum e garante que nas próximas eleições dará o seu voto  a quem tão bem nos governa(ou) e continuará apostar com confiança na alternância democrática: Agora Tu | Agora Eu!

A funcionária pública , autora deste blogue exorta todos os seus pares a mostrar o seu reconhecimento pelas medidas agora tomadas e a enviar ao governo e às troikas que o pariram, vivas felicitações e esta imagem do Grande Bordalo! Ou outra ... a do manguito ...!

 

domingo, 5 de janeiro de 2014

Hoje lembrei-me do Henrique ...


O Henrique - hoje um belíssimo poeta – era mais novo do que eu e o melhor do grupo a fazer relatos. Os nossos pais andavam sempre juntos: agora um petisco onde se combinava uma sardinhada nos pinheiros. Agora a sardinhada onde se combinava uma pescaria. Agora uma pescaria onde se combinava um petisco … Era um tempo, com imenso tempo, em Lagos no principio do anos 70. 
O Henrique é um desses amigos que vem do tempo em que as famílias iam passar o dia na pesca: Os homens saiam com as canas e camaroeiros e a minha mãe e as outras mulheres, ficavam junto da carrinha a preparar "os comeres" . Do tempo em que se dormia a sesta dentro da carrinha e os miúdos transgrediam contando anedotas do Bocage. Lembro-me daquela vez em que os homens se atrasaram na pesca , as velhacas - assim lhes chamava a minha avó - terem comido tudo o que havia para comer e bebido tudo o que havia para beber- medronho inclusive – a ponto de lhes terem servido cascas de caracóis de almoço.  Na carrinha o Henrique fazia de locutor de rádio , enquanto relatava o jogo Sporting Benfica de 74 , com Eusébio, Damas e muitos outros .
Há muito tempo que não estou com o Henrique. Fez-se um bonito Homem. Uma Pessoa bonita. Encontramo-nos pouco hoje, se calha, e quase sempre de corrida. Mas sempre que nos vemos há um brilho maduro e feliz , uma chispa, um olhar profundo de quem se conhece à quarenta e cinco anos, desde o tempo dos golos do Eusébio. Parece que o estou a ouvir:
- E Eusébio recebe isolado. E… avança para a área , demolidor e…. aguenta a carga e ….. GOOOOOLO do Pantera Negra.
Ninguém o fazia melhor que o Pantera.
Ninguém o fazia melhor que o Henrique.
Temos de combinar um café na Britaica, ou na Ritinha! Tenho de lhe levar de presente  este texto que descobri do O'Neill : 

«Uma coisa me consola, Eusébio. É que não fui eu quem cobriu Você de adjectivos, de apodos, de cognomes mais ou menos imaginosos. Não fui eu quem disse que Você era a pantera, o príncipe, o bota de oiro, o relâmpago negro, o coice para a frente, o astropata. Também não fui eu quem disse que o seu nome era Eusébio. Dar o Eu a Eusébio, que pretensão! Derive, derive e vire, vire e atire sem parança, Eusébio, seu genial tragalhadanças!»

sábado, 4 de janeiro de 2014

Dia Terceiro

Trabalhar com pessoas e palavras é quase sempre uma experiência humana intensa.
Não consigo expressar o fascínio e o desafio que representa trabalhar com tantos e tão diferentes tipos de públicos.  
Hoje terminei a segunda mini - oficina na EP de Beja .
14 almas , gente interessada e interessante, um projeto de promoção de leitura em contexto prisional, desenvolvido por uma técnica da organização onde trabalho e com quem colaboro pontualmente. O contexto não é fácil. Histórias que imagino  serem pesadas,  a julgar pelos textos que se escrevem nas  celas e que pouco a pouco são lidos em voz alta. A minha ideia de partida para estas duas horas , é cruzar micro ficção com aquilo que foi produzido ou melhorado,  por cada participante no isolamento da sua cela. Quero trabalhar na construção de relações intertextuais . Não sei se vou conseguir.
Sobre  a mesa alguns dos autores do meu modesto culto; António Torrado e o seu Conta Gotas, Millôr Fernandes e o seu Pif Paf, Afonso Cruz e o seu " Livro do Ano " , Álvaro Magalhães e o seu Brincador., Eduardo Galeano e a sua " Escola do Mundo ao Contrário " ... Para preparar a sessão o trabalho imprescindível da Margarida Fonseca Santos " Escrita " . Ontem fizemos algumas das brincadeiras de escrita com o nome de cada um,  a partir de imagens  e foram lançados alguns desafios. O grupo esteve bem, participou,  mas não floriu. Hoje sim , foi em cheio. Quase todos trouxeram as suas escritas , ou escritas alheias e durante duas horas escutámos, refletimos, partilhamos,  tantas formas diferentes de falar da vida, dos afetos e das emoções . Qual será o significado de estarmos ali a escrever e a ler ? Para que serve isto? Respostas simples e seguras: "dizer o que sinto ou penso, expressar a minha raiva, organizar a minha história". É impressionante o que acontece quando as pessoas ganham consciência de si:
- Você gosta mesmo disto ? - perguntam-me a certa altura ... acho que se referia aos livros.
- Sim, mas aquilo que eu gosto mais , são mesmo as pessoas!
Sorrimos todos e acho nos entendemos. 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Dia segundo - Informação

No sentido de assegurar que em 2014 , este blogue continuará a ser um espaço onde se discutem ideias e ideais , informamos que a partir de hoje não serão publicados comentários a post, cujos conteúdos expressem ofensas a terceiros ou sejam feitos a coberto do anonimato.

Aos lesados por esta medida tardia, envio as minhas desculpas.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Dia primeiro


Estou surpreendida com os ecos que o vento me devolve.
Escutar o vento é quase sempre bom mas...  também é preciso dizer que por vezes, à  força de ser repetidos, os ecos atropelam-se, deturpam as intenções , criam enganos ... e isto a ver pelo tom de alguns comentários que circulam neste fantástico abismo que é a internet - lugar onde nos podemos perder entre ecos - ainda a propósito da Carta a Bartolomeu.

Desta vez os ecos dizem-me que andamos a perder o centro , que se abusa do conforto do anonimato, se cai  na fulanização das questões. Dizem-me os ecos que corremos o risco de nos perdemos nas acusações e apreciações sobre quem fez , faz , ou fará maior estrago, incapazes de distinguir o acessório do central .. e o central é discutir hoje, passados tantos anos de ação do poder local democrático e de leitura pública , como recuperar a centralidade das Bibliotecas na vida dos cidadãos, não por que elas sejam o único acesso à elevação  do sujeito, mas porque elas são um poderoso instrumento na sustentabilidade de um projeto de desenvolvimento para um concelho. O central é discutir que políticas de leitura podem ser postas ao serviço do trabalho educativo, da formação de adultos, do trabalho social , de combate sem trégua às iliteracias e à exclusão, das políticas de valorização da identidade e da memória de uma comunidade, de acesso às linguagens que nos permitem que nos expressemos como sujeitos. E importa que essa discussão possa envolver os recursos humanos que possuímos, o melhor que soubermos e pudermos.

Por aqui me fico neste dia primeiro! Estou a ficar sem tempo pois ainda tenho de preparar  a oficina de escrita no estabelecimento prisional , as sessões com as minhas Marias : as da Cabeça Gorda - onde vamos começar com o "A Minha boca parece um deserto" - e as de Santa Vitória, onde vamos começar a ler a Marabília e estou deserta para lhes falar do espanto daquele lugar, Azinheira Velha, onde uma mulher um dia foi engolida pela terra. Tenho de preparar o encontro dos meus meninos com o livro "Avós" e começo a ficar sem tempo.

Abraços grandes para todos e felicidades para este ano acabadinho de estrear!